quarta-feira, 14 de março de 2012

O MEU 11 DE SETEMBRO





Breakfast in America

Vocês se lembram de uma música do Eduardo Dusek, chamada Nostradamus, que começa assim: “naquela manhã eu acordei tarde de bode...”. Pois é, o dia 11 de setembro de 2001 amanheceu quente e com o céu claro. Eu estava em Presidente Prudente, tinha tocado na noite anterior e queria alguma coisa nova para o repertório do próximo fim de semana.

O alvo era uma bela coleção de vinil conservada com o maior cuidado e acabei escolhendo um disco do Supertramp: Breakfast in America. Apesar de interessante, a capa não prendeu minha atenção porque, naquela hora, eu estava interessada mesmo no conteúdo. Tirei o disco com o maior cuidado, porque o dono era muito ciumento e botei pra tocar na vitrola.

Mas, aos poucos, o som que vinha da sala começou a me desconcentrar. Era da televisão e fiquei encabulada porque ninguém tinha o hábito de ligar a tv naquela hora. Isso a gente fazia só na hora do almoço para ver as notícias. No começo tentei não ligar, mas as vozes na sala também começaram a chamar a atenção e acabei saindo do quarto para ver o que estava acontecendo.

Na tela, os repórteres da Globo narravam ao vivo o que a imprensa achava ser o acidente de um avião que havia se chocado com uma das torres do World Trade Center. Do jeito que gosto de notícias, fui ficando e deixei o ensaio de lado. Logo vi outro avião atingir a segunda torre e não desgrudei mais da tv até terminar o dia e a gente ter a dimensão de toda aquela tragédia.

Quando voltei para o quarto, recolhi os discos espalhados pela cama sempre prestar muita atenção neles. Fiquei totalmente envolvida por aquela história que marcava o início do século XXI e, naquele período, nunca mais deixei de cantar New York, New York, sempre citando o fato estarrecedor.

Tempos depois voltei ao ponto de partida e, ao bater o olho na capa, não consegui mais tirar os olhos dela. O disco é de 1976 e, nessa época, Supertramp era e continua sendo uma das maiores bandas americanas, só ouvindo pra saber. Reparem nas fotos, começando pelo título do disco: “Café da Manhã na América”. A capa mostra a Ilha de Manhattan montada por copos, pratos e utensílios próprios dessa refeição. A garçonete imita a Estátua da Liberdade e a tocha é um copo de suco de laranja que está bem em cima das Torres Gêmeas.

Até aí tudo bem e vale a criatividade. Mas a logomarca do disco é um avião que voa direto pras Torres Gêmeas e alinha é tão precisa que tem até um risco marcando a trajetória. Outra foto mostra ainda os caras da banda lendo o jornal e, parece que a notícia estava chamando a atenção, porque ele até derrama o açúcar.

Fiquei intrigadíssima com a descoberta, que também foi notada por outras pessoas que curtem o Supertramp como eu, tanto que fizeram até uma brincadeira macabra com a logomarca, transformando-a em Companhia Aérea do Terror. Não foi pra menos. Mas, independente dessa incrível coincidência, quase uma profecia, fica aqui meu tributo ao Supertramp e à pessoa que me fez mergulhar nesse universo musical espetacular, que vai muito além da The Logical Song. Muito mais!

Lenilde Ramos

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