sexta-feira, 17 de junho de 2011

MARIA GADU, FEIÚRAS E BONITEZAS





Maria Gadú cantou em Campo Grande num começo de noite do primeiro domingo de junho e o show rendeu pra todo mundo. O Parque das Nações Indígenas estava coalhado de gente. Rendeu pra cantora, com certeza um bom cachê, rendeu para os organizadores, para o público que curtiu a voz e a interpretação espetacular dessa quase adolescente e até rendeu para mim, que vendi alguns livros de minha História sem Nome e fui contratada para tocar na festa junina do Espaço Imaginário (Alê Basso estava lá com toda a família).

Rendeu também pra Juci Ibanez, quando disse no Facebook que achou Maria Gadú feia. Minha amiga cantora passou por um verdadeiro corredor polonês virtual, com gente querendo crucificá-la, jogar pedra e enforcá-la com as próprias mãos. A página dela bombou e nunca vi tantos comentários. Alguns, acabaram a amizade ali mesmo e outros a defenderam, separando feiúra de talento artístico e invocando o nariz adunco de Maria Bethânia.

Nessa hora me lembrei dos primos Ramalho, Zé e Elba e da falecida Aracy de Almeida, que Deus a tenha com todo o seu mau humor. Pra não ir muito longe, temos o Paulo Miklos dos Titãs, que não é nenhum Gianechini e, aqui perto, nosso glorioso Paulo Simões, que nunca foi um Adônis e nós mesmas: a geradora da polêmica e quem escreve essa crônica. Já tive meus tempos de glória, corpídeo de gazela e pernonas enfeitadas de minissaias e Juci também já foi mais magrinha, mas acreditamos e defendemos nosso talento. Até assustei a Ju uma vez, quando ela me disse: “E aí, Lelê, vamos unir nossas afinidades musicais e produzir um show. Você tem alguma sugestão de título?”. Pensei, pensei e soltei na lata: “Que tal, Barangas na Menopausa”. Juju levou um susto e suspirou: “Pô, Lelê, também não precisa esculachar, né?”.

Apesar de mergulhada de cabeça no século XXI e despida de preconceitos, confesso que me perdi no Parque das Nações Indígenas, quando anunciaram Maria Gadú, porque o povo começou a gritar e a aplaudir e eu procurava a estrela até perceber que a tinha confundido com um músico. Era ela! Nessa hora, a gente começa a pensar no que é bonito e no que é feio de verdade nesse mundo, na exigência social de você corresponder a um modelo europeu caucasiano e na beleza fantástica de figuras que estão longe dos ditos padrões. Esse caminho rende panos pra mangas filosóficas e nos propõe um exercício crucial de aceitação, principalmente quando a idade vai chegando.

O show da Maria Gadú também me rendeu um questionamento. Cheguei cedo ao Parque das Nações e até a banda Dimitri Pellz entrar, rolou som mecânico. Depois da Dimitri, mais som mecânico. Foi aí que pensei: “Pô, com tanta gente no pedaço, um público maravilhoso, não seria mais útil e produtivo aproveitar o precioso espaço para tocar o som mecânico de nossas bandas? Temos uma cena de rock que faz inveja a muitos estados brasileiros e, aquele momento seria perfeito pra galera ouvir nossos trabalhos, em vez de um som que a gente pode ouvir a qualquer hora, em qualquer rádio, qualquer bar ou qualquer balada”.

Cada tipo de show das estrelas seria uma chance para ocuparmos espaço sonoro, com a riqueza de nossa diversidade musical. Seria bonito investir tudo no que é nosso, valorizar cada centímetro do que é nosso, ocupar cada espaço útil com o que é nosso, agregar valor ao que é nosso, para dividirmos de igual pra igual nosso talento e multiplicarmos nossas possibilidades, assim como uma Maria Gadú encontrou sua chance e tantos outros artistas, feios ou bonitos por aí, também encontraram.

No dia 31 de maio, lancei minha História sem Nome. Fiquei honrada com a força que a Universidade Federal de MS, para que esse projeto se concretizasse e feliz com o apoio da FUNDAC para a cerimônia de lançamento na Morada dos Baís. Os amigos perguntavam: “Quem vai tocar no evento?”. Eu dizia: “Todo mundo”. E eles queriam entender o que eu estava dizendo.

A festa foi bonita e o público, maravilhoso, mas o que me deixou tão orgulhosa quanto lançar meu primeiro livro, foi ter enchido um pen drive de oito giga, com centenas de músicas, de Délio e Delinha a Jennifer Magnética, passando pelo instrumental de Miguelito e as pessoas diziam: “Que som legal. Quem está tocando?” E eu alardeava aos quatro ventos: “É tudo música de Mato Grosso do Sul !!!”. Isso não é bonito?


Lenilde Ramos

5 comentários:

  1. Matou a pau Lenilde.. É isso aí amiga e continue assim, bem assim... Sucesso

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  2. Bonito? É o máximo! Há eu à sós uns 10 minutos com este pendrive e meu notebook... Viajo pelo Brasil dando treinamento e em cada intervalo aproveito para música local com a nossa música. Sempre cai muito bem! Acabo de descobrir que faço um mini «ms canta Brasil»!

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  3. Completando: ...aproveito para misturar...

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  4. Ah, juventude, beleza, talento. As duas passam, mas talento pode só crescer e florescer, se for usado como você e a Juci fazem.

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  5. É isso aí Lenilde, acima e além. Parabéns.

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